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Sumidos aos 40. A geração sobrecarregada e adoecida

Por Fabiana Pacheco

Você já notou que a geração dos 40 parece ter sumido do mapa? Não são mais jovens descolados, nem os idosos que finalmente ganham alguma reverência pública. Aos olhos do mercado, das redes e até da cultura, quem tem entre 40 e 49 anos simplesmente evaporou.

Mas isso não significa que estejam em pausa. Pelo contrário. Estão trabalhando, criando filhos, cuidando dos pais, empreendendo, pagando dívidas e tentando, desesperadamente, manter alguma sanidade mental.

Em 2024, esse grupo liderou o consumo de antidepressivos no Brasil, segundo dados da IQVIA. Também foram os que mais buscaram por "terapia" e "crise de identidade" no Google, conforme o Trends BR. E entre os economicamente ativos, são os mais endividados, de acordo com a Serasa.

A conta não fecha. Nem a financeira, nem a emocional. É irônico: quem tem entre 40 e 49 anos hoje são, em sua maioria, os chamados millennials, a geração que cresceu ouvindo que mudaria o mundo. Mas o mundo mudou antes. Nos promissores anos 2000, esses jovens chegaram à vida adulta em meio à explosão dos smartphones, da internet e das redes sociais. Estavam conectados, informados e aparentemente bem posicionados para aproveitar as oportunidades de um futuro digital e globalizado.

Mas veio a crise de 2008. Depois, a recessão brasileira de 2014. Em seguida, a pandemia. O ultraliberalismo endureceu. O custo de vida disparou. O sonho de estabilidade virou fumaça. Agora, aos 40 e poucos, se veem esmagados entre expectativas irreais e uma realidade cada vez mais hostil.

Esses adultos são a espinha dorsal da sociedade brasileira. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são os principais provedores das famílias. Dados do Sebrae mostram que também são os que mais abrem novos negócios no país.

Estão nas salas de aula, nos hospitais, nos escritórios, nos canteiros de obras. São pais, mães, filhos, cuidadores. E mesmo assim, quase nunca são o rosto das campanhas publicitárias. As redes sociais os ignoram ou os tratam como se já tivessem passado do prazo de validade. A cultura pop os esquece. O mercado finge que não existem. Eles são cobrados como se ainda tivessem 20 anos, tratados como se já tivessem 70 e, na prática, sumiram do radar das discussões importantes.
Esses adultos são a espinha dorsal da sociedade brasileira. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são os principais provedores das famílias. Dados do Sebrae mostram que também são os que mais abrem novos negócios no país.
A crise não é individual, é sistêmica. E entender isso é essencial. A geração dos 40 mais está vivendo as consequências de transformações globais profundas. Após 2008, o mundo entrou em um ciclo de austeridade, insegurança no trabalho e instabilidade econômica. No Brasil, os millennials enfrentaram uma década inteira de instabilidade — com políticas econômicas frágeis, desemprego crônico e a corrosão do poder de compra.

Os marcos tradicionais da vida adulta, estabilidade financeira, casa própria, aposentadoria tranquila, ficaram cada vez mais distantes. E agora, ao chegar nos 40, essa geração olha ao redor e se pergunta: “Era isso?”

O Brasil vive uma crise silenciosa, que mistura esgotamento emocional, pressão social, fragilidade econômica e invisibilidade simbólica. É uma bomba-relógio que ameaça estourar em ansiedade, depressão, burnout.

Fabiana Pacheco
é jornalista.